RJ mira em Macacos, Serrinha, Vila Kennedy e Catiri como pontos críticos de guerra de facções; moradores relatam insegurança

  • 20/07/2025
(Foto: Reprodução)
Mapa dominação Comando Vermelho Arte/G1 As recentes disputas pelo controle de territórios no Rio de Janeiro têm acirrado a violência em diversas comunidades da cidade, colocando essas áreas na mira das forças de segurança pública. Relatórios das autoridades apontam o Morro dos Macacos (Vila Isabel), a Serrinha (Madureira), além do Catiri e da Vila Kennedy (Bangu), como pontos críticos devido aos intensos tiroteios registrados nas últimas semanas. Moradores dessas regiões relatam rotina de medo e insegurança diante dos confrontos armados que se tornaram frequentes. Especialistas e autoridades da Polícia Militar, da Secretaria de Segurança e do Ministério Público avaliam que a situação atual demonstra uma clara expansão territorial do Comando Vermelho. O principal objetivo da facção, de acordo com as autoridades e especialistas ouvidos pelo g1, é a criação de um "cinturão" nas Zonas Norte e Oeste do Rio. Essa tática cria uma espécie de corredor entre as comunidades, o que permite que a facção circule entre suas áreas de domínio de forma mais segura. Segundo a polícia, o objetivo dos criminosos é transitar prioritariamente entre as comunidades, evitando circular pelo que eles chamam de "asfalto" – referindo-se às ruas dos bairros da cidade. Essa tática visa reduzir a exposição a confrontos com a polícia fora de seus domínios e facilitar a logística de suas operações dentro de suas áreas de influência. Comando Vermelho ganha força no RJ Dados da Subsecretaria de Inteligência (SSI) da Polícia Militar mostram que de 1.648 comunidades do estado controladas pelo crime organizado, o Comando Vermelho (CV) domina 1.036 delas, com 62,8%. Já o Terceiro Comando Puro (TCP) tem o controle de 340 favelas, aproximadamente 20,6%. Ainda de acordo com os dados da PM, a milícia está em 229 comunidades (13,8%), seguida da facção Amigos dos Amigos (ADA) em 43 áreas (2,6%). "Hoje, tenho ocupações no Catiri, que o Comando Vermelho está tentando tomar e não conseguiu, [temos ocupação] no Rio das Pedras. [Recentemente] Fizemos uma ação incisiva no Campinho e Fubá. Além disso, a gente identificou um foco [de invasão] nas últimas semanas em relação à Serrinha”, disse o secretário de Polícia Militar Marcelo de Menezes Nogueira. Segundo investigações da Polícia Civil e do Ministério Público, o Comando Vermelho atua com diversos homicídios e tentativas constantes de invasão para ampliar seus territórios, insuflado por um maior poder financeiro. Traficantes comandados por Rodney Lima de Freitas, o RD, integram a Tropa do RD ou Bonde dos Crias, responsável por incursões a comunidades como o Catiri, em Bangu, e outras dominadas por milícias em Santa Cruz e Campo Grande, também na Zona Oeste. "A percepção é de que houve um incremento de dinheiro devido à exploração de territórios", avaliou Fábio Corrêa, subcoordenador do Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP. Procurada pela reportagem, a Polícia Civil do Rio afirmou que iniciou em março a operação Contenção, feita de forma estratégica e contínua para conter a expansão territorial do CV na Zona Oeste. Até o momento, a corporação afirma que solicitou o bloqueio de mais de R$ 6 bilhões em bens e valores da facção. De acordo com dados das Polícias Civil e Militar, no Rio e na Baixada Fluminense há pelo menos 35 áreas vivem disputas entre facções criminosas, com tiroteios frequentes. Os principais grupos envolvidos são o Comando Vermelho, o Terceiro Comando Puro, milicianos e dissidências internas. A informação é da Folha da S. Paulo.   Moradores relatam medo Polícia faz operação no Morro da Serrinha e ônibus e BRT são usados como barricadas em Madureira Na Serrinha, houve barricadas feitas na última semana com ônibus e BRT. Um morador contou sobre os impactos da violência quase diária: "Essa violência afeta muito o nosso psicológico e a nossa vida financeira. Tem muita gente querendo deixar a Serrinha, mas muitos continuam aqui porque não têm condições de morar em outro lugar", relatou. "As creches não funcionam, as escolas não funcionam. Hoje é difícil criar um filho dentro da Serrinha. Agora imagina sem escola, sem creche, sem coleta de lixo", disse o morador, que não quis ser identificado na reportagem. Morro dos Macacos tem fim de semana de confrontos entre facções rivais Uma moradora do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, relatou que já ficou uma semana fora de casa porque não era possível voltar devido às disputas territoriais. Dominado durante anos pelo TCP, o Morro dos Macacos sofreu constantes tentativas de invasão de traficantes do Morro São João, no Engenho de Dentro, comandado pelo Comando Vermelho. Recentemente, de acordo com policiais ouvidos pelo g1, a facção conseguiu tomar o controle do morro. O TCP tentou retomar a comunidade, mas não conseguiu. Pedro Paulo Lucas Adriano do Nascimento, o Titauro, de 25 anos, foi morto pela PM Reprodução No dia 11 deste mês, o traficante Pedro Paulo Lucas Adriano do Nascimento, conhecido como Titauro, morreu em confronto com policiais do Bope. O criminoso era ligado ao TCP, mas mudou de facção para o Comando Vermelho no início de 2024 e passou a comandar invasões no Morro dos Macacos. Mãe de duas meninas, uma moradora relatou ao g1 que a rotina de tiroteios vêm tornando a situação insustentável. "Há um ano a gente vive essa guerra. Temos que estar em casa antes das 18h, porque depois tem tiro. Tenho duas filhas e a gente tem que se esconder para não acontecer algo pior. Já cheguei a ficar uma semana fora daqui porque não dava para voltar. A gente sai de casa e não sabe se vai tomar um tiro indo ou vindo. Lamentavelmente, isso pode acontecer" A moradora relatou ainda que, por causa dos confrontos, está sem luz e internet há uma semana. “Atiraram, acertaram o transformador, e a empresa não consegue vir fazer o reparo. Eu só torço para que isso acabe logo e a gente possa viver em paz", afirmou a moradora. Polícia prende integrantes de 'Bonde dos Crias' do Comando Vermelho na Vila Kennedy Segundo investigações da polícia, a Vila Kennedy, em Bangu, é atualmente utilizada como base do Comando Vermelho para atuar na Zona Oeste. A Secretaria de Segurança Pública afirmou que vem realizando ações na região para tentar inibir a expansão da facção. Em abril deste ano, traficantes do TCP, vindos da Vila Aliança e Senador Camará, tentaram invadir a comunidade, sem sucesso. Uma moradora relatou que já perdeu um filho durante uma operação policial no bairro, e que hoje quer uma vida melhor para seus netos. "Eu já pensei várias vezes em sair daqui. Passei o que passei com meus filhos, perdi um filho para a violência e não quero passar com meus netos. Mas para sair, a gente precisa ter condições. Quem deveria nos ajudar, que são os governantes, viram as costas", lamentou. Milícia perde força; 'Risco muito grande' em Rio das Pedras Comunidade de Rio das Pedras Reprodução/TV Globo Grupos de milicianos, que tinham controle de partes importantes de Jacarepaguá, estão mais enfraquecidos e possuem dois núcleos claros de resistência na Zona Oeste. Campo Grande, Santa Cruz e Paciência e a região de Rio das Pedras. A possível invasão do Comando Vermelho contra Rio das Pedras, considerado um berço histórico da milícia no Rio de Janeiro, é avaliada como de "um risco muito grande" pelo secretário de Segurança Pública do Rio, Victor dos Santos. Nos últimos anos, comunidades próximas que eram controladas por milicianos, como Muzema e Tijuquinha, além da Gardênia Azul, foram dominadas pelo Comando Vermelho. "Concentramos as forças para evitar que eles tomem Rio das Pedras. Existe um trabalho de monitoramento da inteligência para acompanhar possíveis deslocamentos de criminosos. É um risco muito grande se eles conseguirem tomar Rio das Pedras", avaliou. Miliciano Zinho após dar entrada no sistema penitenciário do Rio Reprodução Em Campo Grande, Santa Cruz e Paciência, ainda resiste o núcleo da antiga Liga da Justiça, que teve os irmãos Carlinhos Três Pontes, Ecko e Zinho como principais nomes durante quase 10 anos. No entanto, após a prisão de Zinho, na véspera de Natal de 2023, a organização criminosa teve diversas baixas importantes e perdeu força na Zona Oeste. "Depois que Faustão (miliciano sobrinho de Zinho) morreu, rompeu-se uma linhagem. Ficou tudo muito fragmentado ali, não existe uma liderança forte atualmente", disse Fábio Corrêa, subcoordenador do Gaeco do MPRJ. Especialistas Os secretários da Segurança Pública e da PM relatam que o plano do Governo do RJ, que será entregue ao STF a partir de outubro, prevê a reocupação de territórios, inclusive com o possível uso das Forças Armadas. Especialistas ouvidos pelo g1 afirmaram que a estrutura das polícias e da secretaria de segurança é pouco eficiente para conter as ações dos criminosos. "A ideia de operação os incomoda, mas não resolve o problema de domínio de territórios. É preciso uma revitalização do sistema de inteligência e integração com outras estruturas, como a Polícia Federal, por exemplo”, afirmou José Vicente Filho. Segundo ele, a fronteira para distinguir as atividades de tráfico e milícias é cada vez menor. “Tanto a milícia está traficando quanto os traficantes estão explorando serviços que eram dominados pelas milícias", pontuou. Para Jacqueline Muniz, professora titular da UFF, a facção cresceu graças a uma maior penetração na estrutura estatal e a uma escolha equivocada na repressão ao crime organizado. "Curiosamente, o tipo de repressão proposta só tornou o Comando Vermelho maior, mais forte, nacionalizado e com dinâmicas internacionais. Operações muitas vezes produzem saldos operacionais, mas não são efetivas no combate ao crime", disse Jacqueline.

FONTE: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2025/07/20/macacos-serrinha-vila-kennedy-catiri-guerra-faccoes-moradores-medo.ghtml


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