Da covid aos antibióticos: conheça o potencial das redes de esgoto nos monitoramentos de saúde

  • 06/07/2024
(Foto: Reprodução)
A metodologia que analisa as águas residuais é conhecida como "Epidemiologia Baseada em Esgotos". Fortaleza é uma das capitais com especialistas que trabalham na análise das redes de esgoto. Monitoramentos nas redes de esgoto podem ajudar questões de saúde em Fortaleza. Thiago Gadelha/SVM O tratamento adequado das redes de esgoto pode auxiliar na saúde pública em questões que vão além do saneamento básico. Amostras retiradas de águas residuais possuem potencial de ajudar especialistas em saúde a traçar diversas estratégias como, por exemplo, o combate aos vírus (como o da Covid-19) e bactérias multirresistentes a antibióticos. A capital Fortaleza está dentro desses monitoramentos (veja mais abaixo). ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Ceará no WhatsApp 🔔 A técnica de vigilância em saúde que usa amostras de águas residuais é conhecida como Epidemiologia Baseada em Esgotos (entenda mais do conceito abaixo). Durante a pandemia de Covid-19, Fortaleza foi uma das capitais que participou da Rede de Monitoramento Covid Esgotos junto a outras cinco capitais brasileiras. Mas o que tem a ver o esgoto com o coronavírus? O professor universitário André Bezerra dos Santos, que coordenou a rede no Ceará, explica. “Esse monitoramento acontecia de maneira semanal e a gente gerava gráficos, mapas, exatamente demonstrando a evolução dessas cargas virais nas estações de tratamento. E a gente também fazia essa avaliação do perfil de concentração ao longo do espaço em mapas, de Fortaleza, mostrando desta forma a abrangência do aumento ou diminuição das concentrações virais”, comentou o professor titular do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC). Conheça a Epidemiologia Baseada em Esgotos, metodologia universal em saúde. O professor André Bezerra explicou que as amostras podiam ser coletadas em diferentes locais, como: Estações elevatórias de esgoto; Estações de tratamento de esgoto; Canais de águas fluviais, para pegar a população não servida com rede coletora; E, em alguns casos, em tubulações — porém isso era menos comum. 🧫 O professor disse que, no Ceará, projetos para monitorar arbovírus e monkeypox também foram desenvolvidos. Como as amostras do esgoto ajudavam no monitoramento? Análise das águas residuais ajudam a prever possíveis aumentos dos patógenos monitorados. Thiago Gadelha/SVM O monitoramento ajudou, entre outros fatores, a identificar antecipadamente a concentração de fragmentos do vírus para promover intervenções locais em saúde, como a melhora nos testes clínicos, o rastreamento de indivíduos sintomáticos, assintomáticos e com sintomas leves. O professor explicou que, quando um determinado local apresentava comportamento atípico, ou seja, quando a velocidade de propagação estava maior do que a dos demais (outras capitais monitoradas), eram lançadas notas de alerta, para serem utilizadas pelas autoridades de saúde no sentido de planejar as unidades de atendimento de saúde. As informações do Ceará eram enviadas para o Centro de Inteligência em Saúde, vinculado à Escola de Saúde Pública, e à Secretaria de Saúde. O g1 questionou à pasta se há projetos com EBE atuantes no estado, mas o órgão disse não haver. Epidemiologia Baseada em Esgotos ajuda no monitoramento de diversos patógenos. Thiago Gadelha/SVM A Rede Monitoramento Covid Esgotos era coordenadora pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Diana Cavalcanti, coordenadora de Conjuntura e Gestão da ANA, explicou que o projeto-piloto iniciou com monitoramento em Belo Horizonte. Os resultados positivos motivaram a criação da rede em outras capitais brasileiras. “Os resultados que decorreram desse período demonstraram que o mapeamento do coronavírus no esgoto podia ser uma importante ferramenta de vigilância epidemiológica, e poderia também fornecer importantes feedbacks ou auxiliar as autoridades na área de saúde incluindo a definição de ações para o combate à disseminação do coronavírus, nas medidas de isolamento, de abertura ou fechamento do comércio, de restrição de mobilização”, comentou Diana. Ela reforçou também o potencial do monitoramento funcionar como um alerta precoce do início do aumento súbito da circulação do vírus em alguns locais de maior concentração de pessoas. “O que se observava é que a onda, crescente em alguns períodos do ano, coincidia com uma antecipação dos registros dos resultados no esgoto. Então, era interessante porque realmente a gente podia verificar que essa vigilância nos esgotos poderia identificar tendências, da ocorrência do vírus ao longo da curva epidêmica”, destacou Diana. Relevância científica da EBE 🔎 Os resultados obtidos com o monitoramento do coronavírus ajudaram pesquisadores brasileiros a demonstrar a relevância do uso da metodologia para detectar antecipadamente surtos de Covid-19, conforme o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). 🧾 A pesquisa foi apresentada no artigo “Epidemiologia Baseada em Águas Residuais: Uma Experiência Brasileira de Vigilância Sars-CoV-2”, publicado no Journal of Environmental Chemical Engineering , periódico científico da editora Elsevier. 🔬 O fator de impacto da publicação científica é de 7.968, número considerado alto para a área de ciências biológicas. A pesquisa foi financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e por outras instituições. Monitoramento contra bactérias A EBE apresenta potencialidades de análises de diferentes patógenos, além dos vírus. Entre eles, estão as bactérias multirresistentes, ou seja, que possuem resistência ao efeito de medicamentos e afetam a capacidade de tratar as infecções que por elas são causadas. 🦠 Os microrganismos multirresistentes, inclusive, são listados como uma das principais ameaças à saúde pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2019. Por isso, foi criada a Rede de pesquisa para o monitoramento de bactérias resistentes a antibióticos e de genes de resistência aos antimicrobianos no esgoto de cidades brasileiras (ReViRAE). A Fiocruz no Ceará integra a rede. O projeto tem o objetivo de criar uma rede de pesquisa para a vigilância de bactérias e genes de resistência aos antimicrobianos (antibióticos) a partir do esgoto de dez capitais brasileiras distribuídas nas cinco regiões do país. Fortaleza foi a cidade escolhida no Nordeste. “Essas bactérias multirresistentes são um grande problemas no mundo, porque a gente está perdendo a batalha ultimamente para os patógenos, porque não tem mais medicamentos, novos grupos ou novas classes de antimicrobianos para lidar com os diversos tipos de infecções que tem principalmente em hospitais”, destacou Fábio Miyajima, membro do Projeto ReviRAE e coordenador geral da Rede Fiocruz de Vigilância Genômica no Ceará. Microrganismos multirresistentes são considerados uma das principais ameaças à saúde pela OMS. Thiago Gadelha/SVM Por isso, Miyajima alertou que é importante também entender essas bactérias do ponto de vista genômico, do nível de circulação, da presença ou ausência delas; o perfil de resistência delas. “Nem sempre é possível fazer esse monitoramento direto dos pacientes, que seria um grupo muito grande para fazer uma investigação individual de cada uma das pessoas”, comentou. “Uma forma de fazer esse monitoramento é analisar as águas residuais, porque ele é um sistema que não mente, independentemente da pessoa estar procurando se testar ou não, você consegue detectar, através do material coletivo, de várias subestações de tratamento, para poder monitorar”, reforçou o especialista. Fábio alertou que a metodologia não vai funcionar para todos os patógenos, mas que é importante avaliar quais vão ter o melhor valor para ser aplicado na saúde pública, na emergência sanitária. “Essa questão de se avaliar a bactéria é muito importante porque tem muita bactéria hoje que são parecidas com aquelas que circulam e causam infecção nos hospitais, que são difíceis de tratar, mas que elas são parecidas da mesma família, mas elas não causam a doença ou não causa a mesma gravidade”, disse. Fábio explicou que, com as técnicas usadas, é possível identificar mais precisamente quais antibióticos as bactérias estão resistentes. “É um bom indicador. Se você encontra um número grande de cópias de uma determinada bactéria e um conjunto de ilhas de resistência plasmídeos, que estão associados a um perfil de resistência a um tipo de medicamento, então, você pode dar um indicador ao gestor de saúde para racionalizar a prescrição, ou até mesmo suspender a prescrição de certo tipo de antibiótico que está causando mais problema do que ajudando”, complementou. Assista aos vídeos mais vistos do Ceará

FONTE: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2024/07/06/da-covid-aos-antibioticos-conheca-o-potencial-das-redes-de-esgoto-nos-monitoramentos-de-saude.ghtml


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