Copom crava Selic em 15% e juros mais altos por tempo ‘bastante prolongado’; veja recados

  • 19/06/2025
(Foto: Reprodução)
Mais importante que a decisão em si era o conteúdo do comunicado desta quarta-feira, que traria sinais sobre os rumos da política de juros no Brasil. E as mensagens foram claríssimas. Banco Central eleva Selic para 15% ao ano O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu nesta quarta-feira (18) elevar a taxa básica de juros para 15% ao ano, maior patamar em quase 20 anos. Havia dúvida no mercado sobre se a diretoria do Banco Central (BC) manteria a Selic inalterada ou optaria por uma pequena elevação. Mais importante que a decisão em si era o conteúdo do comunicado, que traria sinais sobre os rumos da política de juros no Brasil. E os recados foram claríssimos: O BC continua preocupado com as expectativas de inflação acima da meta de 3%; A economia global, especialmente a imprevisibilidade da política econômica conduzida por Donald Trump nos Estados Unidos, representa um fator de instabilidade para economias emergentes como o Brasil; A resiliência da economia brasileira, com crescimento do PIB em níveis sólidos e mercado de trabalho aquecido, pode pressionar a inflação, sobretudo no setor de serviços; O BC reconhece que os juros estão em um patamar elevado, suficiente para desacelerar a economia; O BC também entende que é o momento de encerrar o ciclo de alta iniciado em setembro e observar os efeitos na economia. Uma nova elevação só deve ocorrer se o cenário econômico piorar. Veja abaixo os principais recados deixados pelo comunicado. Cenário externo "O ambiente externo mantém-se adverso e particularmente incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos. Além disso, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos também têm sido afetados, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes em ambiente de acirramento da tensão geopolítica." Como mostrou o g1 em junho, as incertezas em torno das tarifas anunciadas por Donald Trump têm abalado a confiança de empresas e consumidores no país. E os efeitos já transbordam para a economia global. Especialistas ainda estão cautelosos e aguardam que os impactos mais significativos do tarifaço comecem a se refletir na inflação. No acumulado de 12 meses, inflação por lá foi de 2,4%, ainda acima da meta de 2%. Trump tem pressionado por cortes nos juros, dizendo que os preços estão sob controle. O Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, discorda e decidiu também nesta quarta manter as taxas inalteradas na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano. O Fed reafirmou que as incertezas em relação às perspectivas econômicas continuam elevadas, embora tenham diminuído desde a última reunião. Isso porque, neste mês, Trump anunciou que um acordo comercial com a China "está fechado", dependendo de sua aprovação e de Xi Jinping, presidente da China. Um acordo tira pressão dos preços, que tendiam a subir pela taxação aos produtos. A questão central, no entanto, é a imprevisibilidade, já que o presidente americano tem por hábito mudar de ideia. Os analistas esperam, portanto, sinais mais claros de que a inflação nos EUA não vai explodir. Além disso, há a menção ao "ambiente de acirramento da tensão geopolítica". Trata-se do conflito direto entre Israel e Irã, que começou na última sexta-feira (13) e já deixou mais de 240 mortos. Cenários de guerra sempre geram tensão nos mercados financeiros. Análise do cenário nacional "Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho ainda tem apresentado algum dinamismo, mas observa-se certa moderação no crescimento. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação." Antes de qualquer análise, é preciso lembrar que o BC tem como principal objetivo controlar a inflação e evitar o aumento excessivo dos preços. Entre as preocupações, portanto, há citação aos resultados positivos do Produto Interno Bruto (PIB) e do mercado de trabalho no Brasil. O PIB do Brasil cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2025, novamente acima das projeções de mercado; A taxa de desemprego foi de 6,6% no trimestre terminado em abril, menor patamar para o período em toda a série histórica do IBGE. ⚠️ Em outras palavras: mesmo com a elevação da taxa de juros ao maior nível desde 2006, a atividade econômica no Brasil continua bastante aquecida. Sem uma desaceleração e uma redução do consumo, é mais difícil que a inflação caminhe para a meta de 3%. No acumulado de 12 meses, a inflação brasileira caiu de 5,53% para 5,32%, segundo os resultados de maio. Ainda que a notícia seja boa, o indicador ainda está próximo do dobro do centro da meta. Está fora também do teto da faixa de tolerância, que vai até 4,50%. Segundo as projeções mais recentes do BC, o IPCA deve ficar em 3,6% em 2026, data que o BC chama no comunicado de "horizonte relevante". Balanço de riscos "O Comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado." O BC sempre divulga um balanço de riscos, que reúne os fatores considerados em suas decisões sobre a taxa de juros. De acordo com o comunicado, os riscos para a inflação — tanto de alta quanto de baixa — continuam "mais elevados do que o habitual". Riscos de alta citados pelo Copom incluem: Uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado: ou seja, de que analistas continuem esperando que a dinâmica de preços persista acima da meta de inflação para os próximos anos. Uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo: isto é, que os preços do setor de serviços, o principal da economia brasileira, continuem surpreendendo, desequilibrando os níveis de oferta e demanda e prejudicando a inflação. Uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada: seria o caso em que o aumento da percepção de risco na economia faria a moeda brasileira perder ainda mais força, piorando a inflação pelo reajuste de preços na cadeia de produção. Já para as possibilidades de baixa de juros, são citados: Uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada, tendo impactos sobre o cenário de inflação: que poderia ajudar o país a controlar a demanda por bens e produtos, reduzindo a pressão os preços. Uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza: ou seja, uma intensificação das disputas causadas por Trump, que reduziriam os fluxos de comércio e poderiam reduzir a demanda. Uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários. O que esperar para a taxa de juros "Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado." O principal recado do comunicado está aqui: o BC pretende interromper a elevação da taxa básica de juros para observar seus impactos na economia, considerando que os juros devem permanecer elevados por um período "bastante prolongado". "No entanto, o Comitê enfatizou sua vigilância, afirmando que as futuras decisões de política monetária permanecem flexíveis e que não hesitará em retomar o ciclo de aumento de juros, se necessário", diz Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez. A economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal, diz que o uso da expressão "bastante prolongado" tem o objetivo de reforçar a estratégia do BC e desestimular expectativas de cortes antecipados na taxa de juros. "Achei uma alta um pouco dovish [jargão econômico para uma postura mais branda do BC], pois já sinalizou a pausa e mostrou convicção na desaceleração da atividade. Nossa projeção é de fim dos cortes em 2025. E redução apenas no primeiro trimestre de 2026", diz Natalie. Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, concorda que BC tentou tirar espaço para que se antecipe a discussão sobre corte de juros. Mas afirma que o comitê foi firme ao passar o recado de responsabilidade com a inflação. "O BC fez o certo e não deu brecha para que a discussão ganhasse qualquer espaço, correndo o risco de perder ao menos parte da credibilidade conquistada junto ao mercado até aqui", diz ela. "Ao mesmo tempo em que antecipa a interrupção do ciclo de altas, o Copom deixa claro que, se necessário for, irá retomá-lo: isso aconteceu há pouco tempo na história do BC, e deixar esta porta aberta é algo bastante importante, especialmente em momentos de elevada incerteza como o que vivemos", afirma Helena. O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em sessão solene da Câmara dos Deputados. Wilton Junior/Estadão Conteúdo

FONTE: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/06/19/copom-crava-selic-em-15percent-e-juros-mais-altos-por-tempo-bastante-prolongado-veja-recados.ghtml


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